Simone

Começamos a explorar a cidade por Ybor City, onde os destaques são os ritmos latinos e o aroma de tabaco e construções charmosas de tijolinhos como o Palladium Theater, estabelecido em 1998 e que hoje pertence ao St. Petersburg College.

O bairro carrega este nome como herança de Vicente Martinez Ybor, imigrante espanhol que foi proprietário de uma fábrica de charutos primeiramente instalada em Cuba, depois em Key West, nos Estados Unidos, e, por fim, em Tampa.

Ybor City surgiu mais ou menos na mesma época em que o empreendedor Henry B. Plant colocou Tampa no mapa, com seu super hotel (Tampa Bay Hotel). No começo dos anos 1880, o espanhol radicado em Cuba Vicente Martinez Ybor, magnata do ramo tabagista, transferiu a fábrica que levava seu nome do Sul da Flórida para a região vazia, ao norte do centro de Tampa. Com a nova fábrica, milhares de imigrantes cubanos e espanhóis desembarcaram na cidade, seguidos por grandes grupos de italianos. O resultado dessa mistura é um distrito vibrante e que transborda a herança latina, reconhecido como marco histórico nacional dos Estados Unidos. A imigração em massa levou à construção da primeira estação férrea no local em 1887, lembrada por uma placa histórica. Os trilhos estão lá até hoje.
Aliás, não faltam no famoso bairro placas de bronze que contam a história de quem nasceu ou viveu ali. Molly Ferrara, por exemplo, filha de imigrantes sicilianos, foi a única mulher a receber o título de Alcadesa de Ybor City (líder a serviço da comunidade) e uma das poucas a se destacar no mundo dos negócios, tendo fundado, em 1937, o Columbia Music and Aplliances que operou por 40 anos.

Outra placa marca a criação, em 1894, de uma associação ítalo-americana de assistência educacional, cultural e financeira – L’Unione Italiana.

O centro dessa primeira ocupação ainda pode ser visto no quarteirão limitado pelas 8 e 9 avenidas e pelas ruas 14 (mais conhecida como Avenida República de Cuba) e 15. A fábrica original, um enorme prédio de tijolos aparentes também tombada pelo patrimônio histórico americano, abrigou milhares de funcionários até sua decadência, durante a Segunda Guerra. Depois de décadas abandonado, acabou sendo ocupado pela Igreja da Cientologia.

O fim da grande fábrica não acabou com a atividade tabagista em Ybor City. Pequenas tabacarias espalhadas pelo bairro produzem e vendem seus próprios charutos, com uma produção que atende mais o turismo, distante das vendas em massa de décadas atrás. Uma das principais atrações em Ybor é justamente acompanhar o processo ao vivo, dos tabaqueros, como são chamados os profissionais que enrolam as folhas de tabaco ainda artesanalmente. Nós tivemos sorte e encontramos um para fotografar. O processo é como em Cuba, todo artesanal. A única diferença é que a folha do tabaco, que vem da República Dominicana. Basta ver a placa “TABACOS HECHOS A MANO” ou “HANDMADE CIGARS” e entrar. Realmente, o número de lojas que vende cigarros e tabacos impressiona.

Do outro lado da Av. República de Cuba, na esquina com a 9 Av., está outro prédio histórico da região, o Don Vicente, hotel que funciona num prédio construído em 1895 para servir de casa de saúde para os empregados da fábrica. O espaço acabou sendo aberto para a comunidade e funcionou como hospital até 1980. Quase duas décadas depois, o prédio centenário foi reformado e se transformou no hotel mais charmoso da região.


Há, também, o State Museum Centennial Park, instalado na antiga casa onde funcionava a padaria "La Francesca Joven", de propriedade da família Ferlita. O espaço contém exposições permanentes sobre Vicente Martinez Ybor, a fundação e início da história de Ybor City, a indústria de charuto, os clubes sociais da cidade, e da própria Ferlita Bakery.

Sete Casitas – assim são conhecidas as pequenas casas (de alvenaria), construídas para as famílias dos trabalhadores do charuto, estão alocadas, desde 1976 (removidas da 5 Av.) num local histórico. Três foram construídas por volta de 1895 e, como tal, estão entre as primeiras estruturas em Ybor City.

Completam o cruzamento da Av. República de Cuba com a esquina da 9 Av. o campus da Hillsborough Comunity College e o antigo Cherokee Club, conhecido popularmente por El Pasaje, porque era um dos pontos prediletos de mafiosos, empresários e políticos que, por diversas razões, preferiam usar passagens secretas a sair pela porta da frente, sobretudo na época da Lei Seca.

Seguindo pela mesma calçada Av. República de Cuba está o Círculo Cubano, o clube fundado por imigrantes brancos da ilha nos anos 1880. Os clubes comunitários são importantes testemunhas da história de Ybor City. Italianos, espanhóis, cubanos negros, asturianos, alemães e judeus também formaram suas agremiações, o que de certa maneira delimitou o bairro.

Na 7 Av., está o prédio histórico do Centro Espanhol. Muitos imigrantes espanhóis chegaram à Costa do Golfo do Texas, Louisiana, Mississippi, Alabama e Flórida durante as últimas décadas do século XIX e os primeiros anos do século XX. Este clube reflete o importante papel de ajuda mútua e sociedades étnicas na nova vida que teriam nos Estados Unidos. O edifício ilustra a influência de tendências da elite espanhola sobre o comércio e vida social e intelectual em Ybor City e mostra aos visitantes esta fase da imigração e adaptação.


Junto ao prédio do Centro Espanhol, está a escultura de bronze de Roland M. Manteiga lendo o jornal chama a atenção. Ele foi editor do jornal La Gaceta e cronista. Por mais de 40 anos, usou sua coluna semanal “Como ouvimos” isso” para defender os direitos humanos. Uma bela homenagem!

Ybor tem tanta história que parte dela é servida em forma de refeições. Inaugurado em 1905, o Columbia Café é um dos restaurantes mais antigos e certamente o mais conhecido do Oeste da Flórida, tanto que virou rede, com filiais no centro de Tampa e em cidades próximas, como St. Petersburg, Sarasota e Clearwater. Com decoração de época e cardápio recheado de influências da culinária criolla, o seu maior clássico é o sanduíche cubano, que mistura salame, presunto, pernil e queijo suíço, em referência à mistura de povos dos primeiros tempos do bairro. Nós optamos por algo mais light mesmo, um falafel, num restaurante grego chamado Acropolis.

Mais bares e restaurantes podem ser encontradas no Centro Ybor, um misto de cinema multiplex, praça de alimentação e galeria comercial, que justifica o nome. São dois grandes prédios, com entradas para as 7, 8 e 9 avenidas, ligados por pontes de ferro fundido, que ajudam a reconstituir o clima de início do século XX ao lugar. De lá saem excursões de segway e bicicleta, boas maneiras de explorar a região.

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