Simone


Estávamos em Uyuni, ao sul da Bolívia, para conhecer o maior salar do mundo, com uma área plana de 12 mil km². Depois de duas noites na cidade, pegaríamos um ônibus que nos levaria à fronteira com o Chile.

Aqui, acreditamos que tenha sido nossa maior aventura. O hotel, onde estávamos hospedados, ficava bem ao lado do “terminal” (uma simples casinha). Para começar, partiu com atraso, às 4h da madrugada e não às 3h, conforme informado. Estava lotado e o motorista ainda parou para pegar um lanche.

A fronteira é em Avaroa: uma terra de ninguém. No posto militar onde deveria haver um controle de passaporte, um policial nos cobrou uma taxa de saída de 20 pesos e não nos deu nenhum recibo. Não deveríamos ter pagado. Um grupo de músicos chilenos não tinha o valor. Afinal, se estamos saindo de um país, nos livramos das últimas moedas e notas. Eles não pagaram.
Depois de pagar a tal taxa, fui tentar achar um banheiro. O suposto controle de fronteira sequer tinha um banheiro. Nisso, vimos nosso ônibus saindo. O Ricardo correu para alcançá-lo. Por sorte, ele pararia mais à frente, em frente ao vulcão Ollagüe, antes de atravessar a fronteira com o Chile, só que ninguém nos avisou.

O motorista explicou que ficaríamos ali por 4 horas. Eu não conseguia acreditar. Quem fica ali naquele fim de mundo, se não há nada para fazer? Fomos pedir explicações, pois ao comprarmos a passagem nos garantiram que a viagem seria direta, que haveria câmbio para trocarmos dinheiro já que estaríamos entrando em outro país. O lugar era deserto!!! Só havia mesmo a beleza do vulcão para admirar. O motorista disse que poderíamos descansar, comer, passear, como se ali fosse um shopping center.
, comer, passear, como se ali fosse um shopping center.
O motivo da parada antes de atravessarmos a fronteira é que uma vez por mês acontece uma feira local. E, nós, tínhamos que estar ali, justamente, nesse dia. Se soubéssemos, teríamos ficado mais tempo em Uyuni. Pelo menos, estaríamos em uma cidade e não largados no meio do nada. E, para piorar, ainda era aniversário do Ricardo e ele estava recuperando-se de uma infecção intestinal. Que dia!!!

Eu estava furiosa. A alguns quilômetros, avistamos um vilarejo. Decidimos, então, pegar nossas mochilas e seguir a pé. A previsão mais otimista é de que o ônibus seguiria viagem às 12h. Eram 9h ainda. Não havia como esperar tanto tempo. Eu, o Ricardo, um peruano e mais uns 4 chilenos (os que não pagaram a taxa de saída da Bolívia) caminhamos até chegar à fronteira, na região de Antofagasta, no Chile. Pelo menos, estávamos buscando alguma civilização. Devemos ter caminhado uns 8 km. As mochilas pesavam e fazia calor.

No caminho, paramos para fotografar e admirar o vulcão Ollagüe, com uma altitude de 5.870 metros. Possui uma cratera de 1.250 metros de diâmetro.

Chegamos ao povoado, se é que se pode chamar de povoado. Havia pouquíssimas casas, uma única rua e nenhum comércio, casa de câmbio ou transporte coletivo. Nenhuma farmácia, nenhum restaurante. Achamos uma senhora com um pequeno bar/lanchonete dizendo que poderia preparar uns ovos. Nem pensar!!! O Ricardo já estava doente e eu, fraca. Precisávamos comer um filé, arroz, batatas. Parecia impossível, mas uma senhora entrou e ofereceu-se para fazer. Conduziu-nos para um estabelecimento ao lado, que parecia um pequeno hotel.
Depois de comermos, voltamos à lanchonete, que era o lugar mais “movimentado” do lugar para, para aguardar o ônibus. Não havia nenhum táxi ou van, maneira alguma de sair dali. Eu me recusava a acreditar que teria que subir naquele ônibus “imundo” de novo. De repente, surgem três senhores. Eram caminhoneiros. Naquele instante, vi uma luz no fim do túnel. Pensei: temos que conseguir uma carona.

Eles puxaram conversa. Explicamos o que havia ocorrido. Falamos mal dos bolivianos e eles concordaram. Rivalidade comum entre países vizinhos. O local onde estávamos já havia pertencido à Bolívia; hoje faz parte do Chile.

Foi quando ouvi a palavra mágica, “carona”. Eles ficaram tão sensibilizados com o que nos havia acontecido e, também, por sermos um casal, não tiveram receio em ajudar. O mesmo não ocorreu com o peruano e os chilenos, que lá ficaram esperando pelo ônibus.

Mas a nossa saída dali demorou. Os caminhoneiros almoçaram. Um deles foi tomar banho. Saímos às 15h30. Nós, finalmente, seguiríamos viagem até Calama, cidade mais próxima ao famoso Deserto do Atacama. E o nosso ônibus não tinha aparecido ainda, que segundo o motorista sairia às 12h.
Viajamos na cabine de um caminhão. Para tudo tem a primeira vez, né? Eram 3 caminhões. Um ficou à nossa frente e outro, atrás. O nosso motorista até parou para tirarmos fotos. Estávamos atravessando o Salar do Atacama, as lagunas altiplânicas (de águas bem verdes), o vulcão Licancabur (a 5.930 m acima do nível do mar). Em Uyuni, esse tour era vendido por 90 dólares e nós estávamos ali fazendo de graça. Nossos nomes e nacionalidade foram até anunciados na rádio local, pois a acompanhante de um dos motoristas era locutora de uma rádio. Ela ligou e comunicou que ali passavam dois turistas, em direção à Atacama.

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